terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Dúvida inquietante

Tinha um certo filósofo, cujo nome, sinceramente, não me recordo – também não faz muita diferença –, que dizia que quanto mais conhecimento acumulado, mais longe da sociedade você está e, consequentemente, mais sozinho se sente.


Não sou lá um poço de conhecimento, nem decorei o Wikipedia, mas, por razões de sobrevivência, tive que estudar muito sobre algumas coisas. Uma delas – a que mais me fascina, na verdade – é a Política.

Muito embora eu entenda muito pouco sobre ela, mas ainda assim, alguma coisa, e tenha vivido uma pequena fração da história do que chamam de “nova democracia brasileira”, surpreende-me muito ser um dos poucos que ainda se interessam sobre o assunto.

Cá estou, então, sozinho nesse limbo de pouquíssimo conhecimento e curiosíssimo para saber o que vai acontecer depois que o PT, enfim, atingir 16 anos de poder.

Na verdade, o que me traz ao teclado do meu computador, nesse momento, é a pergunta: em quem diabos eu vou votar?

O problema maior é que não há ninguém para discutir. Devo fazer uma pequena análise sobre isso.

Aqueles que entendem bastante, sempre no início da discussão – pelos menos é sempre assim com aqueles com quem conversei pessoalmente –, dizem assim:

- O que vou dizer agora é somente minha opinião e você não vai mudá-la.

Você, amigo, que faz isso: por que tu entraste na discussão, então? Já houve um tempo em que opinião era inflexível e imutável e chamava-se Idade das Trevas. O nome é bastante sugestivo, não?

Já aqueles que têm opinião maleável e estão dispostos a um debate rico e coerente, detém tanto conhecimento quanto eu e não conseguem responder minhas indagações sobre determinado tema, nem eu consigo responder às delas.

Então, senhor leitor, restou-me esse pequeno espaço para depositar minha solidão neste diapasão intelectual e demoníaco. A dúvida realmente me consome e me inquieta. Mas, enquanto eu não debater com alguém que me convença a votar em alguém, com motivos claros e concretos, a opção será justificar o meu voto e deixar para daqui há dois anos - o que eu não quero fazer, definitivamente.

Aceito sugestões.

Caindo na minha própria e desgraçada contradição, só não aceito o Serra. Digamos que é uma questão de princípios.

Obrigado.




P.S.: Eu sei que a Dilma vai ganhar, caso não tenha ficado claro. Também sei que é provável que o Aécio concorra a presidente, mas citei o vampiro só para não abrir margens. 

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Grito da alma

O grito da alma ou "kiai" é a exteriorização de sua energia, a concentração de suas forças mais internas e exteriorização para a superação de barreiras. Essa energia é a canalização do mais íntimo de nosso ser, a essência de nossa força vital que, unida às demais forças, move e coordena tudo no Universo.


Assim como nós temos limitações e características diferentes nossa alma grita de forma diferente ao ser submetida à prova de fogo do cotidiano. A prova de fogo pode vir de várias formas diferentes, seja da dificuldade financeira, problemas familiares, frustração em relação à objetivos pessoais ou mesmo de uma simples farpa que atravesse algum pé desavisado e cada um tem a prova que mere

ce. 

O Universo conspira de forma independente em cada um e é criativo para que aprendamos o ser também. Porém, seu grito sempre será suficiente para superar a criatividade do Universo, essa é a lei. A lei dita que devemos sempre canalizar nossas forças, pensamento e espírito ao máximo, em tudo que fizermos e, ao fazer isso, a improbabilidade torna-se nula e conseguimos ascender cada vez mais em direção ao céu.

Me despeço agora de minha querida faixa vermelha (aka-obi), depois de 4 anos de adversidades, luta, perseverança, garra, superação e hoje a fênix queima com mais ardor das feridas do caminho e sobe, mirando o céu!


Like the legend of the phoenix

All ends with beginnings ♪

terça-feira, 19 de novembro de 2013

As estranhas reflexões de Barganhas, Pepe e Salazar

Caía a tarde quando Salazar entrou no bar. Tirou seu sobretudo e seu chapéu coco, limpou-se da fina neve que precipitava, pendurou as roupas que não iria usar no cabide do local e se sentou próximo à janela. O estabelecimento era simples, à moda francesa de caffé. Logo que se aconchegou, o garçom ligeiramente o atendeu:
- O que pede hoje, Dr. Salazar?
- Pode me trazer uma dose de Johnny, sem gelo.
- É pra já, Doutor – falou o rapaz, afastando-se da mesa ao mesmo tempo em que anotava outro pedido.
Salazar era alto e branco. Tinha olhos claros e cabelos cinza. Era claramente descendente de europeus. Apesar da aparência senil, possuía um vigor juvenil, como se acabasse de entrar nos louros da mocidade.
Tão cedo seu copo chegou o homem provou um gole da bebida; ela desceu suave e flamejante pela garganta, lavando o cansaço e irritação de um dia inteiro de trabalho.
Antes que pudesse abrir o jornal no caderno de esportes, Salazar ouviu o sino do bar tocar – sinal de que a porta estava a se abrir. Avistou um amigo de longa data; um companheiro fiel às noites de sextas com quem há tantos anos dividiu mesas, gargalhadas e bebidas na madrugada boêmia.
- Barganhas! Está atrasado homem. O trânsito o pegou? – cumprimentou Salazar, já se levantando para dar espaço ao amigo.
- Ora, Dr. Salazar... Este pobre coitado foi pego de surpresa por essa tremenda nevarada! Quem diria que nesta terra poderia nevar?! – disse o outro, limpando seu sobretudo e sua boina, repetindo o ritual de Salazar.
Os dois apertaram as mãos. Barganhas se sentou e acenou ao garçom:
- Guri! Ou, Guri! Traga-me uma boa dose de Velho Barreiro. – pediu para o mesmo garçom que atendera Salazar.
Barganhas vestia roupas simples, de trabalhador braçal. O homem era alto e viril. Aparentava carregar um pouco mais de 20 anos de história, embora possuísse bem mais que isso. Era branco com cabelos negros e curtos e olhos escuros.
A mesa continha quatro lugares; dois de cada lado. Salazar sentou-se de costas para janela e encostou-se no vidro para ler seu jornal; de modo que pudesse ver tanto Barganhas que sentou do outro lado da mesa, de frente para a porta, quanto a entrada do estabelecimento.
No caderno de esportes, Salazar leu que o XV de Piracicaba era campeão da Libertadores.
Mais uma vez o sino da porta soou. Uma figura baixa e esguia entrou no boteco. Tirou o traje de frio – aquele mesmo que os outros dois vestiam – e seu chapéu; limpou a neve e pendurou no cabide para os clientes, próximo aos de Salazar e Barganhas.
- Vejo que só faltava eu. – disse ele, apertando as mãos dos dois que ali se encontravam.
- Chegou em boa hora. Acabei de ler que XV foi mesmo campeão da Libertadores... – disse Salazar, um tanto intrigado.
- Pepe, quer beber algo? – perguntou Barganhas, acenando para o garçom.
- Quero um gole de Stock e uma porção de fritas – pediu diretamente ao funcionário, que já se encontrava prontamente ao lado da mesa.
- Pepe, veio da Paulista? – perguntou Salazar.
- Sim, Doutor. Estava um caos... A neve se acumulou da estação Consolação até a altura do Shopping Paulista.
- Caralho! – soltou o palavrão; Salazar o fazia espontânea e corriqueiramente.
- Como pode aqui em São Paulo nevar? – indagou Pepe. Foi uma pergunta às paredes.
O pedido de Pepe foi servido à mesa, juntamente com a bebida que foi colocada bem na frente do pires de batatas fritas.
Pepe era um senhor, bem mais velho que os outros ali sentados. A vida dura já lhe dera um tempo; já alimentou seus filhos, foi fiel à sua falecida esposa –quando ainda vivia – e se jogou na carreira pública, sempre idôneo e honesto. Agora, aproveitava os bons momentos de sua aposentadoria.
A internet não funcionava em lugar nenhum e os meios de comunicação telefônicos ficaram prejudicados. A estrutura da cidade não foi projetada para aguentar uma nevasca, como há alguns dias acontecera. A televisão via satélite ainda funcionava, mas muito custava às Redes se manterem operando; então decidiram passar apenas os programas de maior audiência e os jornais. Já os canais a cabo, nem mesmo operavam.
- Pepe, ouviu o que falei? – perguntou Salazar.
- O que? Sobre o XV? Sim, mas preferi não acreditar. – respondeu o senhor.
- Pode acreditar, Pepe. Está aqui, olha... – intimou-o para olhar o jornal.
Quando teve em mãos o caderno, percebeu que o XV ser campeão da Libertadores era a menor das surpresas.
- Salazar, você viu essa notícia aqui? – apontou para uma coluna no canto, que tinha letras miúdas; como se fosse uma notícia de menor importância, ou até mesmo de nenhuma.
- Deixe-me ver. – puxou os óculos do bolso para melhor enxergar aquelas letras.
Lia-se na coluna o seguinte:

Clube de Regatas Flamengo é extinto oficialmente hoje pela sua diretoria. O Time 5 vezes campeão do Campeonato Brasileiro caiu para a série de acesso à série C e não possuí torcida. Os jogadores faltaram ao último jogo, já que estavam jogando apenas como hobbie e, segundo eles, compromissos mais importantes os impediram de comparecer.
O Presidente da CBF disse, em nota, que é uma pena que a tradição do futebol brasileiro esteja desaparecendo; mas agora se deve dar enfoque às conquistas do XV que tenta revigorar o esporte nacional.

- Do que se trata, Salazar? – indagou Barganhas, curioso para descobrir o que gerou aquela cara de espanto do amigo.
- Flamengo não existe mais... A diretoria extinguiu o time. – respondeu abismado.
Barganhas comeu uma batata e engoliu sem pensar a bebida de uma só vez. Pasmo, recolheu-se na cadeira e ficou pensativo por um tempo.
- Vocês não acham que tem algo errado acontecendo? – disse Salazar, franzindo a testa.
- Não sei... Tudo aconteceu tão naturalmente. Como as coisas chegaram a esse ponto? – questionou Pepe, indignado.
- Que maluquice. – concluiu Barganhas.
Após o comentário, perceberam que na loja da frente acontecia um assalto. O curioso era que o ladrão se trajava de um personagem de histórias de quadrinhos. Todas as pessoas que passavam na rua não deram atenção ao que acontecia bem ali; algumas até viram, mas simplesmente ignoraram.
Os três olharam uns para os outros, chamaram o garçom e pediram mais um pouco das respectivas bebidas.
Por um tempo, ficaram quietos, fitando as paredes, porém com pensamentos bem além dos limites de concreto. A mesa estava quieta como nunca antes ficara.
- É isso! Esse mundo está louco! – sugeriu Barganhas.
- O que? – perguntou Pepe.
- É... Alguma coisa aconteceu no mundo que ninguém sabe explicar, mas está causando essa loucura toda. – explicou.
- Louco... – sussurrou Salazar.
Essa palavra ecoou na mente dos três. Ali permaneceram fixos, olhando para o nada e pensando sobre a palavra.
- Não, Barganhas... Acho que nós é que estamos loucos. – disse Pepe.
- Nós três? – indagou Salazar.
- Sim. – respondeu.
- Como assim? – inquiriu Barganhas.
- Veja, lá fora, todos andam calmamente. Aqui dentro, várias pessoas leram o caderno esportivo e ninguém achou estranha a notícia do fim de um time como o Flamengo estar exposta numa coluna no canto de página em letras miúdas além de nós. – explicou Pepe.
- Então, por não estarmos ignorando isso é que somos loucos? – questionou Salazar.
- Sim. – respondeu o indagado.
Os drinks chegaram juntamente com mais uma porção de fritas. Pepe não se lembrou de ter pedido mais fritas, mas não se importou com o erro.
- Eu não sou louco, porra nenhuma! – reclamou Salazar, num lapso de pensamento.
- E o que é ser louco, meu caro? – replicou Pepe.
- Ser louco... – filosofou Barganhas – Ser louco é como olhar uma realidade que ninguém mais vê. É ver a verdade como ela realmente é. É como olhar para uma janela que todos dão as costas.
- Ver uma janela que todos dão as costas... – repetiu Salazar, olhando para a janela atrás de suas costas.
Beberam mais do álcool que foi servido e comeram mais da gordura oferecida. Observaram bem o garoto que os serviu, que distraído limpava o copo que acabara de pegar da outra mesa.
Os três ficaram alguns segundos olhando para janela pensando em toda aquela situação.
- Se lembram de quando foi que começou a nevar em São Paulo?  - perguntou Pepe.
- Não foi ontem? – tentou Barganhas.
- E que dia é hoje? – disse Pepe.
Na tentativa de responder a questão, Salazar procurou no jornal o cabeçalho. Não havia data no jornal.
- Será que somos mesmo os loucos? – indagou Salazar, bastante assustado.
- Não sei... – falou Pepe – Quem garante que somos reais? Quem garante que você não é uma projeção fictícia do meu cérebro ou eu sou uma projeção do seu?
As batatas fritas estão muito boas” pensou Barganhas. Olhou para cada uma delas e se perguntou se o sabor de todas elas era real. Todos aqueles acontecimentos não faziam sentido, nada tinha uma explicação lógica. E Barganhas só conseguia pensar em como aquelas batatas fritas estavam saborosas.

                        - É certo, então... – concluiu Barganhas – Nós é que somos loucos.
- Sim. – concordou Pepe.
- Ok. – corroborou Salazar.
- O que faremos então? – problematizou Barganhas.
Todos se entreolharam e beberam mais um gole de seus drinks. As fritas acabaram e a neve se intensificou.
- Não podemos apenas aceitar a loucura? – questionou Salazar.
- Acho que sim. – disse Pepe.
- Aceitemos a verdade, então. – determinou Barganhas.
Após alguns segundos de silêncio, a luz do bar se apagou; um breu tenebroso se alastrou pelo local. Uma luz se acendeu em cima dos três amigos, mas suas roupas estavam diferentes; viram-se cada um com uma camisa branca e calça igualmente branca.
A mesa também foi iluminada, mas agora não era mais de madeira, e sim de metal; as pontas eram redondas e a superfície era fria e cinza. Via-se em cima dela um amontoado de copos descartáveis jogados e alguns remédios espalhados.
Logo o ambiente todo se iluminou; os três amigos viram-se numa cantina de hospício. Sentiram-se aterrorizados com o que se passava.
- O que significa isso?! – questionou Salazar, esperando uma resposta sincera.
- Acho que é isso mesmo. Nós é que somos loucos! – constatou Pepe.
- Estávamos todos na mesma alucinação? – perguntou Salazar – Isso é possível?
- Não, meus caros... Acho que aquela era a mesma realidade. Essa aqui é que é uma farsa. – afirmou Barganhas.
De fato, aquela verdade os incomodava. Preferiam voltar à inexplicável São Paulo à viver a realidade sombria e exata a que foram apresentados.
- E então? O que faremos? – indagou Barganhas.
Logo entenderam que os drinks eram os líquidos que tomaram e as fritas eram os remédios. Certo ou errado viveram até ali dentro de uma ilusão. Por mais que fosse apenas uma distorção daquela realidade, era mais cômodo quando apenas bebiam e gargalhavam juntos.
- Eu não sei... – disse Salazar – Apenas sei que isso é loucura.


terça-feira, 12 de março de 2013

Do latim: amor

O que é amor?


O significado de 'amor' segundo o dicionário Aurélio:

(ô) sm. 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma coisa. 3. Inclinação ditada por laços de família. 4. Inclinação sexual forte por outra pessoa. 5. Afeição, amizade, simpatia. 6. Objeto do amor (1 a 5).

Obs.: Tomei a liberdade de grifar os significados 1. e 5. acima pois gostaria de comentá-los em sequência. 

Podemos dizer que o amor é algo intrínseco ao ser humano, seja este fraterno, platônico ou mesmo na semântica de afetividade que a palavra traduz. Amor é algo que não é medido, não existem 'punhados de amor', tanto que pra demonstrarmos a intensidade de uma afetividade é difícil expressar o 'quanto' você ama algo ou alguém. Um conceito abstrato que apenas nós seres humanos, como criaturas racionais que somos, podemos compreender e estudar a ação.

O amor fraterno, por exemplo, é existente em inúmeras espécies de animais, causando afetividade de progenitores por suas crias e não é muito diferente em nosso caso. Nós como seres humanos, tratamos esse amor de forma especial, traçando laços afetivos com nossos parentes e unindo tais sentimentos tecemos um novo conceito: o de família.

Família por sua vez, em sua etimologia deriva de três palavras latinas:

famulus = que serve, lugar em função de.

faama = casa.
famulo = do verbo facere, a indicar que faz, que serve.

Tais conceitos unidos, traduzem a ideia base de família, que seria mais ou menos 'aquilo que serve como casa', ou seja, um conjunto de pessoas unidas que formariam o lar. 

Divagando um pouco, me pergunto se o conceito de família hoje em dia segue esta semântica dada... Afinal, hoje em dia, com tantos divórcios, estruturações familiares diferentes, distanciamento de elos afetivos, dentre tantos outros fatores que podem prejudicá-lo, o conceito de família ainda continua de pé?!?

Cresci com um conceito um tanto quanto diferente de família e gostaria de partilhá-lo com todos:

Família é quem se importa, é quando a estruturação e a semântica da palavra 'amor' são levadas ao extremo. Onde os envolvidos se desejam mutuamente o bem e há uma afetividade por parte dos mesmos. Amor fraternal, neste caso, também entraria a semântica de amizade. Não aquela amizade de interesse, de conveniência, mas sim o pleno significado de companheirismo e compaixão. O sentimento de que você sempre pode contar com a pessoa e você se dispõe a ajudá-la em qualquer momento de tristeza, dificuldades e necessidades. Família não é ditada por um sequenciamento genético similar, olhos da mãe, queixo do pai, olhar da prima. Perdão a algum geneticista se estou a falar abobrinhas, mas para mim, família é quem cuida.




quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Afinal, somos humanos não somos?



Bom, decidi que postaria uma crônica que já fiz há algum tempo, mas que mereceria estar aqui desde o momento em que foi posta no papel. Essa rápida introdução é apenas para ressaltar que o pessimismo demonstrado nos textos que aqui posto, não é proveniente de experiências reais, tampouco é exposto de maneira intencional. Tenho uma vida muito animada, diga-se de passagem.  Contudo, o que me vem à mente e acho que é digno de ser mostrado, eu o faço. Pessoalmente, das coisas alheias que trago ao mundo, esta foi uma das que mais me arrependi. A última flor do Lácio não merece certos tipos de horrores trazidos à tona; o texto em si não traz nada de terrível, nem é extraordinário, apenas me deu medo de sentir na pele tudo aquilo que o personagem sentiu. Não tente encontrar metáforas nem enigmas nas entrelinhas... Não fiz com esse propósito. Não é bem escrito, o título não é bom, não é profundo, mas ser aquele homem é aterrador. Chega de enrolar, parte logo para a leitura.


Uma breve história

Ele preferia permanecer de olhos fechados. Tudo era monótono e vazio: aquela maca, as paredes brancas, o sorriso falso das enfermeiras maquiando a realidade. Mas o que mais revoltava e indignava o homem eram as cenas absurdas e hiperbólicas que a família encenava ao ouvir as más notícias trazidas pelos médicos.
Lembrou-se então do dia em que recebera a notícia. Aos trinta anos descobrir que desenvolveu um tumor no intestino não era nada animador. Recebeu a notícia como algo banal; não que não soubesse a seriedade do que estava por vir, mas estava disposto e encará-la sem medo.

Bom seria se dependesse apenas dele. Trataram-no como finado. Entre assinar papéis e encaminhar procurações, foi lembrado de nunca fizera um testamento. 25% para o filho mais novo, 25% para o mais velho e o resto para a esposa. Na assinatura do termo, um sentimento tão claustrofóbico foi despertado; aquele que se esconde aguardando um menor descuido na sua autoconfiança. Aprece para dar início aos conflitos longos e desgastantes: a dúvida. “Vou morrer hoje? Amanhã?”, perguntava-se desesperado, “Amei o suficiente? Fui Amado o suficiente?”.

Sem perceber, a família o fazia acreditar que todos os dias eram o último. A quimioterapia fazia sua função, todavia os efeitos colaterais somados às picuinhas familiares chamaram o homem ao leito de morte.

Depois das lembranças aterradoras, imaginou a frase de seu epitáfio. Pensamentos fúnebres eram constantes e por isso não fazia questão de ignorá-los. Já escolhera a roupa, o caixão, comprara a jazida – tudo com auxílio da família, que não pestanejou -, mas aquele maldito grupo de palavras unidas resumindo o que foi uma vida não lhe vinha com facilidade. “Aqui jaz um homem morto”, ironizava, sempre antes de desistir. Conclui então que ao menos essa conjectura deixaria para a família.

Abriu os olhos, contudo não se sentia o mesmo. Percebeu que a ceifadora batia à sua porta. Olhou para os filhos sentados a beira da maca, brincando distantes, com seus cérebros infantis imaginando os seus poderosos carros alcançando o infinito. Admirou a esposa sentada no pequeno sofá de enfermaria fitando a rua e o céu plenamente azul que cobria a cidade neste dia. Sussurrou para si mesmo: “Foi bom viver”. Entregou-se à Morte como uma pena flutua sobre um lago sereno. 


P.s.: Um pequeno feedback seria interessante.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Revolution

Era cerca de duas horas da manhã, em meio ao descampado um pobre soldado perdido na madrugada, com seus olhos cansados e úlceras cravadas em sua carne de batalhas anteriores se põe a repousar à beira de uma árvore, ouvido brevemente seus pensamentos sussurrarem em meio ao tiroteio coletivo. 

Os "Redhearts", como se intitulavam, haviam perdido inúmeros patrulheiros, muitos nobres de coração e espírito, antigos companheiros de uma batalha épica travada desde os remotos tempos da antiguidade. Lembrava assim de cada um de seus rostos, fitando-os em suas feridas e, cada pedaço arrancado de seu peito parecia o confortar com suas palavras:
"Não se lamente por erros passados ou se preocupe com o futuro, o presente é a maior dádiva de sua vida, viva-o sem se lamentar. Só não faça algo estúpido, sim?!?"
"Se você preza por alguém, agarre-se a ela! Um pássaro que bate muito suas asas pode não voltar, mas dê a ele alguma liberdade, afinal de nada vale um pássaro em suas mãos se você o esmaga tentando protegê-lo."
"Você ainda é jovem soldado, sua amada não estará o esperando com os braços abertos se você não lutar para tê-la. Além disso, ela é um ser humano, e assim como você é sujeita a erros. Se a ama, lute por ela, se não for o suficiente, lute mais, porém saiba quando se dar por vencido."
"A solidão é um mal soldado. Preze por suas amadas, sim, mas nunca se esqueça de seus amigos, pois serão eles que lhes salvarão nos piores momentos, nem se esqueça do verdadeiro amor rapaz, o ágape."
Uma chuva de sal caíra em seu peito após um devaneio de olharem em direção ao céu noturno. As salvas de tiros não lhe escapavam aos ouvidos. Sabia que seria apenas questão de tempo até tudo estar decidido, afinal, após quase duas décadas de resistência aos ideais inimigos os rebeldes sufocariam brevemente toda sua infantaria, somente questão de tempo...
Nas últimas décadas houveram grandes vitórias para o lado dos "Redhearts". Grandes batalhas e momentos de felicidade no avanço e disseminação de seus valores. A lealdade, a ternura, a esperança de que um nobre coração poderia prosperar em meio à indiferença, à crítica de valores e à política do "pegue o que quiser".
Só de pensar que a moral nos corações daqueles jovens poderia se tornar cinzas espalhadas ao vento causava ânsia naquele jovem de 19 anos, com seu fuzil depositado no peito e lágrimas do que passou até então...
- Alto lá! - ouviu ele, do início da vegetação densa, à sua frente. Passos se estendiam pelo descampado e o exército rebelde o havia cercado, como num piscar de olhos.
- Olhe só o que temos aqui, um jovem "Redheart". Não se preocupe meu bom rapaz, pelas suas feridas já sofreu demais, sua morte será rápida - disse o rebelde logo à sua frente, empunhando sua arma e firmando-a em seu peito.
- Eu me rendo, me rendo! - disse o jovem rapaz - Faça o que quiser de mim, aceito teus ideais, cavalheirismo nunca mais! Já sofri demais nesta batalha! Desde os 14 anos estou preso à esta guerra secular, não vejo mais o fim do túnel! Me rendo!! Por favor, poupe minha vida, serei escravo de tua filosofia.
- Você é um emblema de uma filosofia meu garoto. Não podemos deixá-lo em pune. Quais suas últimas palavras?
- Minhas últimas palavras? - Um breve silêncio circundou o descampado, onde apenas os barulhos dos cães das armas ao serem engatilhados formavam quase que uma sinfonia mórbida.
Estas são minhas últimas palavras, e que elas sejam ouvidas ecoando na eternidade. Que os valores de antigamente não se percam. Que minha amada, onde quer que ela esteja, venha procurar por mim. Cansei de ser ricocheteado por suas balas, perfurado por suas baionetas e torturado em suas celas de indiferença. Os valores morais que eu creio são ouro perto da idade do bronze em que estão convivendo. De nada adianta triturarem meus ossos, meu espírito não será quebrantado. A sociedade está corrompida com falsas medidas e manipulações de mentes. Onde está o cavalheirismo nestes tempos de covardia? Onde está o amor nos tempos de ódio? Por Deus, onde está o companheirismo em tempos individualistas como estes?!? Por meu último pedido, lhes rogo para pregar estes valores. Meu coração está a arder em chamas e meu corpo dilacerado por tuas vis mãos. Meu coração ainda crê nesta guerra, porém, infelizmente para mim, esta batalha está terminada. À Deus.

~Não desistam nobres companheiros, a batalha é árdua sim, porém a recompensa lhes será eterna.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A crise da nova era


Há duas palavras para serem definidas, antes de tudo:
  1. Amor: Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa (ex.: amor filial, amor materno).
  2. Amizade: Afeição recíproca entre dois ou mais entes.

Começando pela primeira, pode-se perceber que na sociedade atual perdeu-se muito do significado denotativo da palavra. Amor já não é mais uma grande afeição – considerando aquela que se constrói em muito tempo de convivência – e sim algo corriqueiro, ou até mesmo sazonal. O Brasil adora exibir para o mundo o quão caloroso e receptivo é com as pessoas que visitam, todavia isso cria na própria sociedade o desgaste do discernimento entre o que é afinidade e amor efetivamente, refletindo na falta de confiança entre as pessoas. A evidência  é o grande cinismo que existe entre as relações de amizade recentemente formadas; duas pessoas que se conhecem há apenas um mês, por exemplo, já se consideram melhores amigas – ou seja, estabelecem uma relação amorosa segundo o que foi definido anteriormente -, contudo, criam um afastamento enorme após a primeira discussão.


Juntamente a isso, pode ser introduzida na análise a segunda palavra, que também foi banalizada no sentido denotativo. A hipocrisia da boa educação obriga o indivíduo a ser recíproco em relação à pessoas cuja presença não lhe agrada. Isso causa um sério problema de desconfiança entre os “amigos”, já que não há certeza da autenticidade da reação do outro, mesmo após algum tempo de convivência. Ainda usando o exemplo anterior, supõe-se que, mesmo após a discussão, as pazes foram feitas. Assim, um dos indivíduos volta a considerar o outro melhor amigo – banalizando novamente o amor -, e o outro, todavia, é recíproco naquele momento, mas depois fala mal do “amigo” para outras pessoas.

Tais banalizações causam hoje um problema muito sério de confiança entre as pessoas. Estabelecer relações de amor e amizade leva tempo e não podem ser facilmente rompidas como algo corriqueiro. Isso futuramente pode refletir numa sociedade formada por uma grande maioria de pessoas sozinhas e hipócritas ao extremo. Concluí-se portanto que o problema não é ser caloroso na atitude, mas sim exagerado no uso das palavras para definir uma relação.