segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Revolution

Era cerca de duas horas da manhã, em meio ao descampado um pobre soldado perdido na madrugada, com seus olhos cansados e úlceras cravadas em sua carne de batalhas anteriores se põe a repousar à beira de uma árvore, ouvido brevemente seus pensamentos sussurrarem em meio ao tiroteio coletivo. 

Os "Redhearts", como se intitulavam, haviam perdido inúmeros patrulheiros, muitos nobres de coração e espírito, antigos companheiros de uma batalha épica travada desde os remotos tempos da antiguidade. Lembrava assim de cada um de seus rostos, fitando-os em suas feridas e, cada pedaço arrancado de seu peito parecia o confortar com suas palavras:
"Não se lamente por erros passados ou se preocupe com o futuro, o presente é a maior dádiva de sua vida, viva-o sem se lamentar. Só não faça algo estúpido, sim?!?"
"Se você preza por alguém, agarre-se a ela! Um pássaro que bate muito suas asas pode não voltar, mas dê a ele alguma liberdade, afinal de nada vale um pássaro em suas mãos se você o esmaga tentando protegê-lo."
"Você ainda é jovem soldado, sua amada não estará o esperando com os braços abertos se você não lutar para tê-la. Além disso, ela é um ser humano, e assim como você é sujeita a erros. Se a ama, lute por ela, se não for o suficiente, lute mais, porém saiba quando se dar por vencido."
"A solidão é um mal soldado. Preze por suas amadas, sim, mas nunca se esqueça de seus amigos, pois serão eles que lhes salvarão nos piores momentos, nem se esqueça do verdadeiro amor rapaz, o ágape."
Uma chuva de sal caíra em seu peito após um devaneio de olharem em direção ao céu noturno. As salvas de tiros não lhe escapavam aos ouvidos. Sabia que seria apenas questão de tempo até tudo estar decidido, afinal, após quase duas décadas de resistência aos ideais inimigos os rebeldes sufocariam brevemente toda sua infantaria, somente questão de tempo...
Nas últimas décadas houveram grandes vitórias para o lado dos "Redhearts". Grandes batalhas e momentos de felicidade no avanço e disseminação de seus valores. A lealdade, a ternura, a esperança de que um nobre coração poderia prosperar em meio à indiferença, à crítica de valores e à política do "pegue o que quiser".
Só de pensar que a moral nos corações daqueles jovens poderia se tornar cinzas espalhadas ao vento causava ânsia naquele jovem de 19 anos, com seu fuzil depositado no peito e lágrimas do que passou até então...
- Alto lá! - ouviu ele, do início da vegetação densa, à sua frente. Passos se estendiam pelo descampado e o exército rebelde o havia cercado, como num piscar de olhos.
- Olhe só o que temos aqui, um jovem "Redheart". Não se preocupe meu bom rapaz, pelas suas feridas já sofreu demais, sua morte será rápida - disse o rebelde logo à sua frente, empunhando sua arma e firmando-a em seu peito.
- Eu me rendo, me rendo! - disse o jovem rapaz - Faça o que quiser de mim, aceito teus ideais, cavalheirismo nunca mais! Já sofri demais nesta batalha! Desde os 14 anos estou preso à esta guerra secular, não vejo mais o fim do túnel! Me rendo!! Por favor, poupe minha vida, serei escravo de tua filosofia.
- Você é um emblema de uma filosofia meu garoto. Não podemos deixá-lo em pune. Quais suas últimas palavras?
- Minhas últimas palavras? - Um breve silêncio circundou o descampado, onde apenas os barulhos dos cães das armas ao serem engatilhados formavam quase que uma sinfonia mórbida.
Estas são minhas últimas palavras, e que elas sejam ouvidas ecoando na eternidade. Que os valores de antigamente não se percam. Que minha amada, onde quer que ela esteja, venha procurar por mim. Cansei de ser ricocheteado por suas balas, perfurado por suas baionetas e torturado em suas celas de indiferença. Os valores morais que eu creio são ouro perto da idade do bronze em que estão convivendo. De nada adianta triturarem meus ossos, meu espírito não será quebrantado. A sociedade está corrompida com falsas medidas e manipulações de mentes. Onde está o cavalheirismo nestes tempos de covardia? Onde está o amor nos tempos de ódio? Por Deus, onde está o companheirismo em tempos individualistas como estes?!? Por meu último pedido, lhes rogo para pregar estes valores. Meu coração está a arder em chamas e meu corpo dilacerado por tuas vis mãos. Meu coração ainda crê nesta guerra, porém, infelizmente para mim, esta batalha está terminada. À Deus.

~Não desistam nobres companheiros, a batalha é árdua sim, porém a recompensa lhes será eterna.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A crise da nova era


Há duas palavras para serem definidas, antes de tudo:
  1. Amor: Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa (ex.: amor filial, amor materno).
  2. Amizade: Afeição recíproca entre dois ou mais entes.

Começando pela primeira, pode-se perceber que na sociedade atual perdeu-se muito do significado denotativo da palavra. Amor já não é mais uma grande afeição – considerando aquela que se constrói em muito tempo de convivência – e sim algo corriqueiro, ou até mesmo sazonal. O Brasil adora exibir para o mundo o quão caloroso e receptivo é com as pessoas que visitam, todavia isso cria na própria sociedade o desgaste do discernimento entre o que é afinidade e amor efetivamente, refletindo na falta de confiança entre as pessoas. A evidência  é o grande cinismo que existe entre as relações de amizade recentemente formadas; duas pessoas que se conhecem há apenas um mês, por exemplo, já se consideram melhores amigas – ou seja, estabelecem uma relação amorosa segundo o que foi definido anteriormente -, contudo, criam um afastamento enorme após a primeira discussão.


Juntamente a isso, pode ser introduzida na análise a segunda palavra, que também foi banalizada no sentido denotativo. A hipocrisia da boa educação obriga o indivíduo a ser recíproco em relação à pessoas cuja presença não lhe agrada. Isso causa um sério problema de desconfiança entre os “amigos”, já que não há certeza da autenticidade da reação do outro, mesmo após algum tempo de convivência. Ainda usando o exemplo anterior, supõe-se que, mesmo após a discussão, as pazes foram feitas. Assim, um dos indivíduos volta a considerar o outro melhor amigo – banalizando novamente o amor -, e o outro, todavia, é recíproco naquele momento, mas depois fala mal do “amigo” para outras pessoas.

Tais banalizações causam hoje um problema muito sério de confiança entre as pessoas. Estabelecer relações de amor e amizade leva tempo e não podem ser facilmente rompidas como algo corriqueiro. Isso futuramente pode refletir numa sociedade formada por uma grande maioria de pessoas sozinhas e hipócritas ao extremo. Concluí-se portanto que o problema não é ser caloroso na atitude, mas sim exagerado no uso das palavras para definir uma relação.