Bom, decidi que postaria uma
crônica que já fiz há algum tempo, mas que mereceria estar aqui desde o momento
em que foi posta no papel. Essa rápida introdução é apenas para ressaltar que o
pessimismo demonstrado nos textos que aqui posto, não é proveniente de
experiências reais, tampouco é exposto de maneira intencional. Tenho uma vida
muito animada, diga-se de passagem. Contudo, o que me vem à mente e acho que é
digno de ser mostrado, eu o faço. Pessoalmente, das coisas alheias que trago ao
mundo, esta foi uma das que mais me arrependi. A última flor do Lácio não
merece certos tipos de horrores trazidos à tona; o texto em si não traz nada de
terrível, nem é extraordinário, apenas me deu medo de sentir na pele tudo
aquilo que o personagem sentiu. Não tente encontrar metáforas nem enigmas nas
entrelinhas... Não fiz com esse propósito. Não é bem escrito, o título não é bom, não é profundo,
mas ser aquele homem é aterrador. Chega de enrolar, parte logo para a leitura.
Ele preferia permanecer de olhos fechados. Tudo era monótono e vazio: aquela maca, as paredes brancas, o sorriso falso das enfermeiras maquiando a realidade. Mas o que mais revoltava e indignava o homem eram as cenas absurdas e hiperbólicas que a família encenava ao ouvir as más notícias trazidas pelos médicos.
Uma breve história
Ele preferia permanecer de olhos fechados. Tudo era monótono e vazio: aquela maca, as paredes brancas, o sorriso falso das enfermeiras maquiando a realidade. Mas o que mais revoltava e indignava o homem eram as cenas absurdas e hiperbólicas que a família encenava ao ouvir as más notícias trazidas pelos médicos.
Lembrou-se então do dia em que
recebera a notícia. Aos trinta anos descobrir que desenvolveu um tumor no
intestino não era nada animador. Recebeu a notícia como algo banal; não que não
soubesse a seriedade do que estava por vir, mas estava disposto e encará-la sem
medo.
Bom seria se dependesse apenas
dele. Trataram-no como finado. Entre assinar papéis e encaminhar procurações,
foi lembrado de nunca fizera um testamento. 25% para o filho mais novo, 25%
para o mais velho e o resto para a esposa. Na assinatura do termo, um
sentimento tão claustrofóbico foi despertado; aquele que se esconde aguardando
um menor descuido na sua autoconfiança. Aprece para dar início aos conflitos longos
e desgastantes: a dúvida. “Vou morrer hoje? Amanhã?”, perguntava-se desesperado,
“Amei o suficiente? Fui Amado o suficiente?”.
Sem perceber, a família o fazia
acreditar que todos os dias eram o último. A quimioterapia fazia sua função,
todavia os efeitos colaterais somados às picuinhas familiares chamaram o homem
ao leito de morte.
Depois das lembranças
aterradoras, imaginou a frase de seu epitáfio. Pensamentos fúnebres eram
constantes e por isso não fazia questão de ignorá-los. Já escolhera a roupa, o
caixão, comprara a jazida – tudo com auxílio da família, que não pestanejou -,
mas aquele maldito grupo de palavras unidas resumindo o que foi uma vida não
lhe vinha com facilidade. “Aqui jaz um homem morto”, ironizava, sempre antes de
desistir. Conclui então que ao menos essa conjectura deixaria para a família.
Abriu os olhos, contudo não se
sentia o mesmo. Percebeu que a ceifadora batia à sua porta. Olhou para os
filhos sentados a beira da maca, brincando distantes, com seus cérebros
infantis imaginando os seus poderosos carros alcançando o infinito. Admirou a
esposa sentada no pequeno sofá de enfermaria fitando a rua e o céu plenamente
azul que cobria a cidade neste dia. Sussurrou para si mesmo: “Foi bom viver”.
Entregou-se à Morte como uma pena flutua sobre um lago sereno.
P.s.: Um pequeno feedback seria interessante.